terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Graças ao marketing, (infelizmente) o cigarro resiste

por Maria Angela


É fato que toda empresa precisa adotar estratégias eficientes de marketing para sobreviver nesse ritmo acelerado em que vivemos e consumimos. Porém, sem dúvida alguma, uma das poucas indústrias que teve que responder com maior rapidez e eficácia às mudanças do mercado global foi a indústria do tabaco. No início a estratégia era fazer do cigarro parte da cultura, fonte de prazer, status e estilo. Os anúncios publicitários eram “hollywoodianos”, associando, erroneamente, o cigarro a esportes, inclusive, a esportes radicais, o que, é sabido, o uso freqüente do produto dificulta muito sua prática. Além disso, pensando no mercado futuro, perversamente focavam cada vez mais os jovens consumidores.
Há décadas que a indústria do fumo vem tendo sua forma de atuação limitada (principalmente no que se refere à comunicação) diante dos problemas causados à saúde pública, isso porque dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) indicam que o tabagismo mata quatro milhões de pessoas por ano, sendo responsável por bronquite crônica e enfisema pulmonar; câncer pulmonar, infartos do coração; derrames cerebrais, entre outros tipos de câncer.
O fato é que, mesmo sendo proibida de anunciar seus produtos e tendo uma péssima imagem mundial, de acordo com a revista Exame[1], a indústria do fumo continua sendo uma das mais lucrativas do mundo, tendo o faturamento das multinacionais do setor uma taxa média de 3% de crescimento. Como isso é possível? Diante de tanta adversidade, essa indústria não estaria fadada ao fim? A resposta é: estratégias eficientes de marketing.
Dentre as principais ações de marketing adotadas pelo setor constam: a) uma mudança de discurso ao admitir que, sim, o cigarro faz mal à saúde, reduzindo assim os constantes desgastes com os órgãos fiscais do setor; b) aumento de preços para compensar a queda no volume de vendas; c) foco nos países emergentes visando a troca dos cigarros baratos por mais caros, graças ao aumento da renda nesses locais; d) inovação: para não ficar para trás e resistir às mudanças culturais e de consumo, a indústria lança uma versão do cigarro para mascar e desenvolve cigarros menos danosos à saúde; No Brasil, a Souza Cruz promove ainda um programa de palestras e internet para manter a proximidade com os jovens e veicula anúncios que informam sobre as ações de responsabilidade social da empresa.
Todas essas ações são mais provas para aqueles que ainda confundem publicidade com marketing de que as possibilidades são muitas e vão muito além do “plim-plim” da rede Globo.


[1] COSTA, Melina. Décadas sob ataque. E ainda poderosa. pág. 50. Publicada em 24/01/2008.